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Editorial: Altura de repensar o Envelhecimento


Apesar de ser um conceito relativamente novo, hoje em dia falamos de envelhecimento ativo quase como que por obrigação. Vão aparecendo estudos e dados estatísticos que nos revelam que a percentagem de pessoas idosas relativamente às jovens é crescente e que Portugal é um país com uma população envelhecida, sendo essa a tendência para o futuro. Por isso sim, volto a afirmar que o assunto parece ser debatido quase por obrigação, por conveniência. Mas parece que a todos estes debates sobre envelhecimento ativo e saudável falta-lhes a paixão e a lógica que determinem o que isso é realmente. Dá a sensação de que o envelhecimento torna-se num mal necessário de debater, visto que as pessoas teimam, não em viver melhor, mas em morrer mais tarde. Debitam-se dados e estatísticas e padronizam-se as pessoas. Como consequência padronizam-se as intervenções junto dessa população. Parece-me que chegou a altura de repensarmos tudo aquilo que sabemos sobre os seniores, porque a verdade é que os anos passam, as pessoas modernizam-se, as vontades mudam, têm outros objectivos e motivações, mas parece-me que o que Portugal tem para lhes oferecer é um pouco mais do mesmo. 

Não me interpretem mal, mas quando estamos mais preocupados em controlar a doença do que em promover a saúde, então não estamos a celebrar o bem-estar, estamos sim a adiar o mal-estar, porque o nosso foco está errado. E peço que não me interpretem mal porquê? Porque obviamente que as pessoas doentes merecem os cuidados adequados, o carinho e atenção que lhes permitam viver os seus dias da melhor maneira possível. Mas nós enquanto sociedade devemos cuidar dos doentes e celebrar a saúde. Atualmente cuidamos dos doentes e preparamo-nos para cuidar dos futuros doentes. Se vamos depositar todos os nossos esforços e a nossa atenção na doença que a idade eventualmente irá trazer, então não estamos a promover um envelhecimento ativo e saudável, mas sim um envelhecimento de remendos, oferecendo umas soluções aqui, outras ali, pouco diferenciadas, de modo a que as enfermidades possam ser atrasadas, calculadas antecipadamente e se mantenha o status quo.


Então está decidido. Somos um país que vai preocupar-se em promover um envelhecimento ativo e saudável. Ora, quando eu penso em envelhecimento ativo e saudável sou remetido para o futuro, porque o envelhecimento é um processo que ocorre constantemente, anda de mão dada com a vida e com o tempo e que nos leva para o que está por vir. Sendo assim, se o nosso objectivo é procurar tornar o envelhecimento num processo ativo e saudável, tudo tem de ser repensado. O número de idosos doentes e dependentes tem de diminuir e para isso têm de ser encontradas estratégias e intervenções eficazes que vão de encontro a esse objectivo. O estereotipo de sénior português tem de ser forte, determinado, dono de si, capaz de dialogar para além das suas próprias maleitas, capaz de ponderar e decidir por si próprio, equiparado a uma árvores com as suas raízes fundas e a sua copa bem alta, que apesar do passar dos anos continua vigorosa. Claro que a idade traz as limitações físicas, mas se o envelhecimento ativo for realmente repensado e as intervenções procurarem focar-se menos na doença e mais na saúde e no vigor pessoal, então esses objectivos serão alcançados e teremos septuagenários, octogenários, nonagenários e centenários capazes de continuar a contribuir com o seu conhecimento, a sua força e experiência, de se sentirem úteis nas suas comunidades e felizes nas suas vidas. Porque verdade seja dita, não existe ninguém que goste de se sentir inútil, incapaz e dependente. A culpa é nossa porque celebramos e endossamos os motivos errados. Por muito nobre que deva ser o apoio, cuidado e carinho pelos doentes e dependentes, mais nobre é conseguir criar uma sociedade forte, vigorosa e capaz, onde os mais velhos não tenham de sentir-se excluídos, doentes, inúteis e tratados como bebés incapazes de raciocinar, decidir e de ter vontade própria. Está na hora de deixar de pensar que o envelhecimento ativo remete-se a bailaricos e jogos tradicionais e passarmos a ser mais ambiciosos com a sociedade que queremos ter, criar e promover. Se somos um país tão preocupado com as aparências, passemos então a preocupar-nos realmente com os nossos seniores.

Por: António Ramos
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